Qualquer pessoa que tenha conduzido um simples kart tem uma noção do stress a que o corpo está sujeito. Portanto estar em boa forma física não é uma opção para os grandes talentos de hoje em dia, é uma obrigação. Neste artigo vou olhar para as diferentes áreas nas quais o condutor precisa de se concentrar de forma a competir ao mais alto nível. Além disso, vou tentar demonstrar o quão em forma precisam de estar os pilotos atuais.
Os heróis do passado também precisavam de muita resistência, e em alguns aspetos tinham muitas mais dificuldades do que os atletas dos dias de hoje, já que lutavam contra os elementos e o cheiro inebriante a gasolina e a borracha queimada. No entanto, os pneus slick modernos e o extensivo uso da aerodinâmica veio aumentar drasticamente as forças às quais o corpo é submetido.
Vale a pena colocar a evolução no desempenho automóvel em perspetiva. Um
Bugatti Veyron a acelerar dos 0 aos 100km/h em 2,4 segundos vai exercer uma força de 1,55G num condutor, ou, no caso de uma travagem de emergência num
BMW Série 3 a força exercida sobre o condutor seria a mesma. Um carro de Fórmula 1 irá exercer uma força mais de três vezes superior nas zonas de travagem em cada volta, e que podem chegar a mais de 5 G’s nas curvas de alta velocidade. O vaivém Apollo 16, na reentrada na atmosfera atingiu um pico de apenas mais 1G do que um piloto de Fórmula 1 sente em cada volta de um Grande Prémio.
Então, sabemos que conduzir um carro de corrida é um trabalho duro, mais difícil do que na verdade muitos possam pensar. O que é importante entender é que o lado físico é um facilitador mas não é tudo. O que quero dizer com isto? É preciso ser-se um atleta para conduzir um carro de corrida rápido em qualquer distância, mas a forma é o que permite ao condutor fazer o seu trabalho, em vez de ser o trabalho, como no caso do corredor de 100m. É importante ser capaz de pensar da mesma forma no final da corrida como no início, apesar de 2 horas de desidratação, do calor sufocante e das forças extremas aplicadas sobre o corpo.
Vou debruçar-me sobre as forças físicas e o treino necessário para superar isso, o regime pré-corrida necessário para suportar a distância da prova e a tensão mental envolvida. O automobilismo é só conduzir em círculos, não é? O piloto com o carro mais rápido vence sempre, correto? Como vais poder perceber, há muito mais do que isso.
Capacidade Mental
É essencial que um piloto conjugue a aptidão mental e a física
Claro que a aptidão física é importante, mas é também um dado adquirido no ambiente do automobilismo profissional atual. Também é quantificável e pode ser melhorada fazendo simplesmente o tipo certo de exercício.
Valentino Liuzzi concorda com esta avaliação. Ele diz que a "forma é uma coisa muito importante na Fórmula 1, mas tenho que admitir que é mais uma coisa mental." Por que é ele diz isto? Quão difícil pode ser? Afinal, eles têm todos os pequenos (e grandes) luxos da vida. Cada vez mais a Fórmula 1 começou a tornar-se numa fonte de pressão mental constante sobre os condutores, com os meios de comunicação, os patrocinadores e os fãs a exigirem mais tempo dos pilotos, especialmente neste mundo da imprensa que acompanha cada movimento de um piloto. Se um piloto não é "bom da cabeça", então como é pode ser esperado que ele se apresente na sua máxima força numa corrida extenuante de duas horas? Especialmente quando se lhes pede para se adaptarem a inúmeros ajustes através dos volantes cada vez mais complexos, ou para sentirem pequenas alterações na degradação dos pneus e na carga do combustível enquanto lutam com os adversários a velocidades que não deixam margem para erro.
Alexander Leibinger explica que a aptidão física e mental estão ligadas, com a aptidão física como base sobre a qual o resto é construído. Leibinger diz que um piloto deve fazer um mínimo de 20 horas de treino cardiovascular e muscular por semana antes sequer do lado mental entrar na equação. Durante o inverno, o piloto médio pode aumentar a sua formação para cinco ou até sete horas por dia só para construir a base. Mesmo aspetos, tais como aminoácidos, são controlados de forma a que um piloto possa concentrar-se na condução.
Para entender o quão forte é um piloto de F1, vale a pena pensar sobre esta questão: cada vez que um piloto de F1 carrega a fundo nos travões, que pode acontecer dez vezes por volta, ele precisa de exercer 99.8 quilogramas de pressão sobre o travão. Enquanto isso, tem de largar o travão, à medida que a velocidade é reduzida de forma a evitar um bloqueio. Para isso é necessária muita força nas pernas. Isto também significa que os pilotos têm de treinar para tipos específicos de trabalho, as pernas, por exemplo, têm de ser capazes de aplicar sequências de força rápida e explosiva.
Durante a corrida, o batimento cardíaco típico de um piloto está situado entre os 140 e os 150 batimentos por minuto. É um valor elevado, especialmente se for considerado que um piloto médio de Fórmula 1 tem um batimento cardíaco de descanso muito baixo, provavelmente na casa dos 40. O único desporto onde o batimento cardíaco fica mais alto por mais tempo é a maratona. Na verdade, muitos pilotos competem em triatlos, maratonas e provas de ciclismo ao longo do seu treino normal.
Claro que o melhor treino é o tempo passado no carro e que já é um treino físico por si só. O único problema é que hoje, com a RRA a tentar reduzir os custos e a proibição de testes, os pilotos são obrigados a encontrar formas mais criativas de chegar ao pico da forma.